Mulheres meio Rory Gilmore

05/10/2023

E o medo do fracasso.

Meu nome é Francisca, Chica, Chiquita, Chiquinha e Chiquitita. Eu sou a filha única que nunca incomodou. Além de primeira filha, fui também a primeira sobrinha e neta pelos dois lados da minha família. Servi de modelo exemplar e parâmetro de comparação para as minhas primas toda a vez que alguma delas tinha uma atitude diferente do que era esperado pelos adultos. Cresci com privilégios, em uma época em que meus pais tinham mais dinheiro do que hoje em dia. Sou branca. Estudei em colégio privado parte da infância e sempre tive habilidade para as artes e comunicação (a conversa paralela na aula deixava as professoras malucas!). Enfim, assim como Rory Gilmore, eu vivia em uma bolha e era cercada de gente me dizendo eu que era ótima, que eu era uma criança linda e fofa, que eu era inteligente, que eu cantava muito bem e que iria conquistar tudo que eu quisesse na vida. No entanto, veja só a minha realidade.

Hoje com vinte e nove anos (quase trinta, que completarei em breve) já não sou mais o exemplo que minha família tanto se orgulhava. Ao contrário, talvez eu seja um grande desapontamento. Eu já fui uma noiva abandonada sem dinheiro, sem emprego, sem seguro-desemprego, sem ter estudado além do médio, e tive que voltar para a casa dos meus pais. Foi difícil, mas sobrevivi! Então morando com meus pais, arrumei um emprego descente, consegui uma bolsa de 100% do valor na Universidade em que eu mais sonhava em estudar, conheci um cara novo. Fomos morar juntos, fiquei doente de tanto estresse, ansiedade e depressão por conta das altas demandas de estudar e trabalhar ao mesmo tempo e ainda passar os domingos fazendo trabalhos artísticos para complementar minha renda. Fui abandonada física e afetivamente... de novo. Tive então que dar um jeito de viver sozinha, mesmo ganhando pouco, porque voltar para a casa de meus pais pela segunda vez não era uma opção.

Consegui! Fui morar sozinha num lugar bem localizado. Quando minha vida estava voltando aos eixos, o segundo rapaz resolve voltar para a minha vida. Aceitei a volta, depois de muita conversa, porque fazia sentido naquele momento e porque eu o amava muito mesmo ainda estando sofrendo com a instabilidade emocional que ele me fez passar.

Depois de três péssimos anos de pandemia, a empresa em que eu trabalhava estava em crise: fui demitida. Junto a isso, crise no relacionamento, e não é que o mesmo cara terminou comigo pela segunda vez?! Tragam um prêmio para essa guerreira.

Agora eu estou aqui, passando pela crise dos trinta anos. Pensando em tudo o que eu poderia ser; pensando em tudo que me prometeram que eu seria, e tudo que deu errado no caminho. Não era para ser assim, eu fui a criança que poderia ter sido tudo o que eu quisesse! A verdade é que eu sou boa! Eu sou muito boa! E ainda não entendo por que a vida tem que ser tão injusta com as pessoas boas. Veja o meu momento #writepeopleproblem.

Ao menos e ao final de tudo, acho que a vida me deu mais uma chance e me distanciou do final triste de Rory, já que o primeiro teste de gravidez que eu fiz na vida acabou de ir para a lata do lixo no banheiro da Universidade com uma listrinha apenas, negativo.

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